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Aconselhamento Parental

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"É preciso uma aldeia inteira
para educar uma criança."   
Provérbio Africano 

 

Crianças e adolescentes são um verdadeiro desafio para aqueles que assumem diariamente a responsabilidade de cuidar e educar. Ainda mais na modernidade, onde as redes de apoio costumam ser escassas e as tarefas da vida moderna  múltiplas. Não há no mundo uma mãe ou um pai que não tenha passado pela experiência de não saber qual a melhor forma de agir com os filhos.

 

Cada etapa do desenvolvimento possui caraterísticas próprias e carrega consigo múltiplos desafios e exigências, que geram nos cuidadores uma série de sentimentos, entre eles insegurança, ansiedade, medo, solidão e a tal da culpa, que quase sempre acompanha os pais na árdua tarefa parental. 

A famosa frase: "pena que não vem com manual de instrução" expressa, de forma bem humorada  tanto as dificuldades nesse processo de criação de filhos  quanto a percepção de que se trata de um papel que ninguém sabe à priori como exercer. E não tem mesmo como saber. Mesmo pais mais experientes percebem rapidamente que cada novo elemento na família traz mudanças fundamentais e peculiares à dinâmica familiar, que podem ser vividas com maior ou menor dificuldade.

 

Por um processo psicológico totalmente natural e saudável, todo pai e toda mãe "investe narcisicamente" em seu filho e produz  expectativas a respeito do mesmo. No entanto, cada filho possui sua própria individualidade e sua identidade em construção, que eventualmente vão ao encontro das  expectativas parentais, gerando não raro estranheza e frustração. Por isso se diz que, no processo de se tornar pai e mãe,  é preciso que os pais façam uma espécie de "luto" do filho imaginário e se movimentem na direção de encontrar e conhecer o filho real e, mais do que isso, de reconhecer como sendo legítimas em seu filho as características de personalidade que transcendem e diferem  em muito  as almejadas pelos pais.

A tarefa de criar um filho exige muita disponibilidade (interna e externa), energia e resiliência. É uma das mais difíceis que existem, especialmente pela sua natureza constante e diária, que  exige uma combinação de fatores pessoais e relacionais que devem ser sustentados (holding) por um ambiente que apresente  estabilidade emocional razoável de ambos os cuidadores maternos e paternos (ou dos tutores que fazem esse papel).

 

Nesse processo, é importante que os pais tenham noção das diferentes etapas do desenvolvimento pelas quais o filho está a passar, compreendendo as competências e limitações de cada etapa, assim como as tarefas apropriadas a cada fase. É desejável também que os pais possam  reavaliar suas próprias expectativas em relação ao filho e encontrar um caminho de interação que respeite esses processos de transformação. E aqui é importante lembrar que os próprios pais, durante esse longo período de educação, estão igualmente a passar por transformações e também têm de responder a desafios pessoais, profissionais, financeiros, amorosos, entre outros.

Frequentemente, pais sentem a educação dos filhos com ansiedade e tendem a valorizar  excessivamente os comportamentos destes e os seus possíveis significados. Já outros, relativizam demasiado certos comportamentos, acreditando que "com a idade tudo irá passar" e que o problema se resolverá por si só, sem nenhuma espécie de intervenção. Há ainda pais que sentem muita dificuldade em colocar limites e regras aos filhos, reforçando a ideia de que o filho é teimoso, agitado ou mal educado "por natureza", e desse modo não há nada que possam fazer a respeito.

 

Deste modo, o aconselhamento parental pode constituir um importante recurso para pais e cuidadores, uma vez que pretende ser um espaço aberto para esclarecer e pensar  dúvidas e questões relacionadas com as suas crianças e/ou adolescentes. É um espaço de não julgamento e de compartilhamento que pretende ajudar a promover relações mais positivas entre pais e filhos, através do desenvolvimento da compreensão dos filhos e de suas necessidades,  de modo a  possibilitar aos pais exercer as suas competências parentais de forma mais eficaz e harmoniosa.

O aconselhamento parental  pode ser buscado como uma intervenção preventiva ou como suporte durante momentos desafiadores na jornada parental, tais como

  • Dificuldades na Educação dos Filhos: Quando os pais enfrentam desafios na criação dos filhos, como problemas de comportamento, dificuldades de comunicação ou questões disciplinares.

  • Transições Familiares: Durante momentos de transição, como divórcio, mudanças familiares significativas, ou a chegada de um novo membro à família, como um irmão mais novo.

  • Conflitos Familiares: Em casos de conflitos familiares, seja entre pais e filhos ou entre parceiros, o aconselhamento parental pode ajudar a melhorar a comunicação e resolver problemas.

  • Estresse Parental: Quando os pais sentem-se sobrecarregados, estressados ou ansiosos devido às demandas da parentalidade.

  • Desenvolvimento Infantil: Para obter orientação sobre o desenvolvimento infantil, entender as necessidades específicas de cada fase e promover um ambiente saudável para o crescimento dos filhos.

As modalidades de aconselhamento podem variar: há casos que incluem somente  os pais ou, dependendo da problemática, também com sessões individuais com os filhos e/ou sessões familiares. Pode não ser necessária uma intervenção terapêutica com os filhos, mas a intervenção com os pais é sempre indispensável, pois são estes que terão um papel fundamental na alteração de dinâmicas ou adaptação de rotinas e estratégias na educação parental.

"Gosto de usar as palavras "suficientemente bons". Pais suficientemente bons podem ser usados por bebês e crianças pequenas, e suficientemente bons significa você e eu. Para sermos coerentes e, assim, previsíveis para os nossos filhos, devemos ser nós mesmos. Se formos nós mesmos os nossos filhos podem passar a conhecer-nos. Se estivermos representando um papel, seremos certamente descobertos quando nos surpreenderem sem as nossas máscaras"

D.W.Winnicott  (in Conversando com  os Pais)

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