Psicoterapia na Terceira Idade
Considerações sobre o envelhecer
A vida é constituída por ciclos: nascimento, infância, adolescência, vida adulta e velhice. Cada uma destas etapas possui peculiaridades e desafios próprios, assim como demandas emocionais diferentes. Em termos psicológicos, pode-se afirmar que o ser humano nunca "está pronto". O indivíduo passa de forma dinâmica pelas fases da vida e vai se constituindo e sendo constituído na interação com o contexto interpessoal, histórico e cultural no qual se insere, interage e se constrói, e na terceira idade não é diferente.
Winnicott, importante pediatra e psicanalista inglês, enfatiza o envelhecimento como uma das tarefas do existir humano que gera o retorno da dependência, e apresenta a inexorável tarefa de reconhecer a finitude e integrar a própria morte, em suas palavras, "a derradeira marca da saúde"".
Envelhecer é um processo que implica em profundas mudanças físicas, sociais, cognitivas e emocionais, sendo que cada pessoa irá vivenciar estas mudanças de forma singular.
O corpo sofre alterações drásticas e a aparência da pessoa se altera bastante, o que para alguns é um processo de difícil adaptação, já que a maneira que a pessoa percebe seu corpo está intimamente ligada à sua identidade. A mobilidade, a agilidade, o equilíbrio e o metabolismo também passam a apresentar alterações importantes, e as funções sensoriais encontram-se diminuídas.
Além disso, ocorrem nessa fase da vida importantes alterações psicológicas. Os fatores de estresse são múltiplos, como luto por perda do cônjuge ou de entes queridos, afastamento de filhos e netos, perda parcial ou total da autonomia, isolamento social, adoecimentos, etc. A aproximação da morte e o medo dela também é um fator gerador de bastante ansiedade e estresse no idoso.
Todos esses fatores podem desencadear uma série de reações emocionais, sendo que as mais frequentemente relatadas por essa população são: depressão, ansiedade, transtornos alimentares (como anorexia ou obesidade) e alcoolismo, impactando diretamente na qualidade de vida do idoso.
Psicoterapia na Terceira Idade?
Há entre o senso comum a ideia equivocada de que seria "tarde demais" iniciar terapia na terceira idade. Tarde por que? Se tivermos em mente que um dos principais propósitos da terapia é auxiliar o indivíduo a lidar com o sofrimento, por que na terceira idade, fase tão desafiadora do ponto de vista emocional, esse pressuposto seria menos válido?
Diante de tantas adaptações que o idoso precisa realizar, o acompanhamento psicológico constitui uma importante ferramenta de facilitação deste processo, contribuindo para que o indivíduo compreenda melhor as mudanças que estão ocorrendo e busque alternativas para lidar com elas. A psicoterapia também proporciona ao idoso um espaço neutro e livre de julgamentos para falar de seus medos e inseguranças, permitindo olhar-se sob novas perspectivas e ressignificar acontecimentos, sentimentos, comportamentos e memórias que têm influência direta na sua qualidade de vida.
O trabalho terapêutico com o idoso é adaptado para atender às necessidades específicas desse grupo, considerando a bagagem de vida acumulada e as particularidades desse estágio. Entre os pontos que merecem ênfase no trabalho com o idoso estão:
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Ajustes às mudanças físicas e psicológicas;
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Processos de lutos;
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Perda de papéis sociais;
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Solidão e Isolamento;
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Reflexões sobre a Vida;
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Medo do envelhecimento e da morte;
O Velho Do Espelho
(Mário Quintana)
"Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste..."